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O socorro. Por Dr. Nilton Kasctin Dos Santos (Promotor de Justiça e Professor)
04/05/2024 14:19 em Notícias

Um aventureiro que tenta atravessar o oceano sozinho em um barquinho a remo naufraga próximo a uma ilha deserta. Por sorte consegue alcançar a terra a nado tendo ainda a mochila presa às costas, com alguns produtos essenciais, como água e alimentos.

         Recobra as forças e depressa estende a roupa para secar ao sol antes que a noite chegue. Depois levanta um pequeno barraco usando madeiras e folhas de palmeira, tudo conforme aprendeu quando era escoteiro. Pronta a construção, tranca a entrada e deita sobre o monte de folhas secas que havia juntado para lhe servir de cama.

         Cai a noite. Longe e perto, só o que escuta são cantos, gritos urros e toda espécie de ruídos provocados pela movimentação intensa dos animais noturnos. Isso, somado aos pensamentos desencontrados que lhe assaltam, faz o sono desaparecer por completo.

         Enquanto pensa numa forma de buscar socorro ao raiar do dia, lembra-se de sua mãe e do que ela sempre lhe ensinara a respeito de Deus. Se tivermos fé, dizia a velhinha, Deus estará sempre do nosso lado, Ele é o nosso socorro no dia da angústia.

         Envolvido nesse esforço mental de encontrar qualquer forma de socorro, passa a recordar trechos de orações aprendidas com a mãe quando ainda era criança. Não costumava ir à igreja. Nem sabia rezar. Mas respeitava a crença da mãe e, de certa forma, acreditava no poder da fé, tanto que antes de realizar um negócio ou uma viagem sempre pedia que sua mãe orasse por ele.

         Mas uma coisa torna sua situação ainda mais angustiante. É que dessa vez não pedira oração à mãe antes de iniciar a malfadada aventura marítima. Pior ainda. Toda vez que falava do plano de um dia levar a cabo a tal travessia do oceano, sua mãe era categórica em repreendê-lo por tamanha asneira, como costumava dizer.

         Assim, sem poder contar com a oração da mãe, o jeito é ele mesmo orar, de qualquer maneira. Mas a ansiedade é tanta, que sua oração se resume literalmente a pedidos de socorro para Deus. Aos berros.

         Amanhece. Silenciam os animais noturnos. Agora só o canto de alguns pássaros diurnos e o rugir das ondas. Mas nenhum sinal de algo que pudesse representar um socorro humano, muito menos de algum milagre. Então o homem sai a caminhar pela beira-mar em busca de ser visto por algum pescador que porventura estivesse por ali.

         Horas depois, seu coração acelera quando ouve o ronco de um avião. Acena, salta e grita desesperado. Tudo em vão. O avião desaparece no infinito.

         No fim da tarde, faminto e cansado, retorna à tenda, só pensando em beber água e comer alguma coisa. Mas ao visualizar o local da barraca, vê-se completamente dominado pelo desespero. Tudo está em cinzas.

         - Como pode, se não acendi nenhuma fogueira, nem do lado de fora? – pergunta-se perplexo.

         Sem água, sem comida, em pânico, sem forças para gritar a oração da noite anterior, passa a noite lamentando:

         - De que me adiantou pedir socorro a Deus! Não há jeito, vou mesmo morrer aqui!

         Mas quando o dia desponta, outro ruído de motor. Um helicóptero desce exatamente sobre as cinzas do seu acampamento. Do aparelho saem dois homens.

         - Estamos aqui para resgatá-lo – explica um deles. - O enorme fogo que você fez alertou o piloto de um avião comercial que seguia essa rota ontem. Ele nos informou o local demarcado pelo GPS.

         - Você foi inteligente ao fazer o fogo na hora e no local certos -  emenda o outro socorrista.

         Com Deus é exatamente assim. Pouco importa se não sabemos orar, se não temos uma igreja ou se nosso passado é ruim. Basta acreditarmos no seu poder. E pedir socorro a Ele, de qualquer jeito. E Deus nos socorre. Do seu jeito.

Por Dr. Nilton Kasctin Dos Santos (Promotor de Justiça e Professor)

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