Debater medidas permanentes de enfrentamento aos eventos climáticos extremos, principalmente a estiagem, na agropecuária gaúcha. Essa é a finalidade principal do 1º Fórum Estiagem em Foco, que ocorre hoje e amanhã (10 e 11/5, respectivamente) no auditório da Federação das Associações de Municípios do Rio Grande do Sul (Famurs). O evento, promovido pela Secretaria da Agricultura, Pecuária, Produção Sustentável e Irrigação (Seapi), em conjunto com a Famurs, integra a programação do 30º Seminário de Secretários Municipais de Agricultura do RS.
A abertura oficial ocorreu na manhã desta quarta-feira (10/5), com a presença do governador em exercício, Gabriel Souza. Todo o evento pode ser assistido ao vivo pelo canal de YouTube da Seapi e pelo da Famurs.
Gabriel destacou o compromisso do governo do Estado com o tema e a importância da colaboração dos municípios, especialmente depois de três períodos de seca consecutivos – com a pior estiagem dos últimos 70 anos. “É preciso mudar a mentalidade sobre as mudanças climáticas e os impactos no Rio Grande do Sul. Nosso Estado tem todo potencial para ser protagonista no mercado mundial, que demanda cada vez mais produtos sustentáveis”, afirmou o governador em exercício. “E, nesse sentido, a união de esforços entre prefeituras, Estado e governo federal é fundamental.”
O titular da Seapi, Giovani Feltes, ressaltou a relevância do estreitamento de laços com a Famurs. “É fundamental estruturarmos ações conjuntas que possam potencializar as ações individuais que cada um esteja exercitando. Assim, poderemos alcançar rapidamente resultados mais animadores, que nos permitam evoluir do ponto de vista da diminuição dos custos de produção, por exemplo”, comentou o secretário.
De acordo com Feltes, “a estiagem, sendo recorrente e causando impactos para milhares de pessoas do ponto de vista social e econômico, deve ser um assunto a ser discutido de forma colaborativa durante todo o ano”.
Por sua vez, o presidente da Famurs e prefeito de Restinga Sêca, Paulinho Salerno, afirmou que as gestões municipais, junto ao Estado, concordam que o momento é de pensar de forma preventiva. “Não é porque mudou o ciclo hídrico que vamos deixar de evoluir no tema. Os municípios buscam mitigar os eventos climáticos extremos no Rio Grande do Sul, e têm bons exemplos de como apoiar localmente os produtores e a população rural. O objetivo é evitar perdas, que têm se acumulado nos últimos anos”, explicou Salerno.
Já o presidente do Conselho dos Secretários Municipais de Agricultura (Consema), Rafael Jacques de Oliveira, declarou que o Serviço de Inspeção Municipal (SIM), é uma das pautas que os secretários municipais de Agricultura precisam priorizar. “O SIM precisa continuar operando, permitindo que os pequenos municípios vendam para seus vizinhos. Do contrário, as agroindústrias serão impactadas negativamente”, alertou Oliveira. Outro assunto prioritário, segundo ele, é a conservação de água, que necessita ser debatida de maneira mais ampla.
Participaram também da abertura oficial o coordenador-geral do Ministério de Desenvolvimento Agrário e Agricultura Familiar no Rio Grande do Sul, Milton Luiz Ferreira; o secretário de Desenvolvimento Rural, Ronaldo Santini; o superintendente federal do Ministério de Agricultura e Pecuária no RS, José Cleber de Souza; e o presidente da Comissão de Agricultura, Pecuária, Pesca e Cooperativismo da Assembleia Legislativa do RS, Luciano Silveira.
Estratégias contra a estiagem
O painel “Avançar Agro - Políticas disponíveis pela Seapi” foi apresentado por Feltes, que abordou o projeto “Supera Estiagem”. A iniciativa trata de medidas para mitigar os efeitos da seca no Estado. O secretário explicou que há quatro equipes de perfuração de poços com equipamentos próprios da Seapi e que são priorizados os municípios em situação de emergência. Ele destacou também a cedência de 89 novas máquinas e que os municípios podem conseguir até 12 açudes cada – atualmente, 449 já se habilitaram.
“Houve ainda o repasse de recursos aos municípios para escavação de cisternas, até três por município”, relatou Feltes. O titular da Seapi apontou ainda que foram revitalizadas 20 estações meteorológicas, totalizando 50 no Estado. “Com as já existentes, chegamos a 100 estações.”
Ainda pela Seapi, o engenheiro agrônomo e diretor do Departamento de Defesa Vegetal, Ricardo Felicetti; o engenheiro florestal e coordenador do Comitê Gestor do Plano ABC+RS, Jackson Brilhante; e o meteorologista Flavio Varone participaram do painel “Contribuições do Simagro e das Tecnologias do Plano ABC+ no enfrentamento à estiagem”.
De acordo com Felicetti, a busca por estabilidade e garantia de produção envolve diretamente o enfrentamento às alterações e aos extremos climáticos (como a estiagem). Segundo ele, são necessárias soluções complexas, capazes de contemplar mais que medidas pontuais. “Para o incremento nas garantias de produção, precisamos de conscientização e envolvimento de todos os entes das cadeias produtivas, com compartilhamento de responsabilidades e amparo científico proporcionado pela pesquisa”, explicou o engenheiro agrônomo.
Em sua fala, Brilhante destacou que o Plano ABC+RS é composto por oito tecnologias – entre elas, o sistema plantio-direto. “Como o Estado é um grande produtor de grãos, a qualificação do sistema plantio-direto pode ser uma alternativa para minimizar os efeitos das futuras estiagens”, afirmou o engenheiro florestal. Ele reforçou, junto aos secretários municipais de Agricultura, a importância de se manter a cobertura do solo. “Assim, a água vai infiltrar mais e permanecer por mais tempo dentro da propriedade. Com isso, o aproveitamento na produção será melhor.”
Varone falou sobre “A importância do Sistema de Monitoramento e Alertas Agroclimáticos (Simagro-RS) no monitoramento climático”. Conforme o meteorologista, o adensamento da rede de coleta de dados é fundamental para o controle das condições atmosféricas que predominam nas regiões produtoras do Estado, e que servirão de base para gerar índices agroclimáticos específicos para as principais culturas.
“Outro fator de grande destaque são produtos de previsão de tempo e clima, com informações para curto, médio e longo prazo. Combinados com o monitoramento, darão suporte para as tomadas de decisão dos produtores dentro de suas propriedades”, comentou Varone.
Mudanças climáticas
“Contribuições do Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia (INCT) de Agricultura de Baixa Emissão de Carbono para minimizar os impactos das mudanças climáticas” foi apresentado pelo zootecnista e professor da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), Paulo Carvalho. Ele explicou que o Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia (INCT) de Agricultura de Baixa Emissão de Carbono é uma rede nacional de pesquisa em mitigação das emissões de gases de efeito estufa e de adaptação da agricultura às mudanças climáticas. A rede reúne 50 instituições de todo Brasil e tem como objetivo promover avanços científicos no tema, bem como difundir e incentivar produtores e demais atores da cadeia a fazerem a transição para uma agricultura "net-zero" – ou seja, na qual as emissões de carbono se equiparam às remoções.
Carvalho apresentou as linhas de pesquisa e soluções carbono-zero do INCT para os sistemas de produção pecuária, agrícola e integração lavoura-pecuária. “No Rio Grande do Sul, as conexões com o Comitê Gestor Estadual do Plano ABC+ e com a Aliança Sistemas Integrados de Produção Agropecuária garantirão a difusão de todas as tecnologias aos beneficiários finais, produtores e sociedade”, frisou o zootecnista.
A 30ª edição do Seminário dos Secretários Municipais de Agricultura do RS vai discutir ainda as políticas públicas e recursos para o setor, formas de minimizar os impactos da seca no Estado, manejo e conservação do solo, reservação de água e políticas de fomento ao pequeno produtor, entre outros temas.