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Nossas tendas. Por Nilton Kasctin Dos Santos (Promotor de Justiça e Professor)
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Publicado em 17/06/2023

Abraão está velhinho. Sua mulher, estéril e também idosa. Não podem ter filhos. Ele anda triste com isso, pois Deus lhe prometera muitos filhos. Com a sua fé golpeada pela dúvida, pensa: “Ou a promessa divina não passa de engano, ou dessa vez Deus falhou”.

         Desanimado, o velhinho entra em sua tenda, onde permanece inerte por longo tempo. Até que uma voz do lado de fora quebra o silêncio:

         - Abraão, sai da tua tenda. Não temas, eu sou o teu escudo. Olha para o céu e conta as estrelas, se as pode contar. Assim será a tua semente.

         Abraão torna a crer na promessa. Então Deus lhe ordena que realize um ritual de sacrifício no altar.

         No episódio destacam-se dois momentos importantes: primeiro, como condição para que se trave um diálogo, Deus ordena que Abraão saia da tenda; segundo, já fora da tenda e depois de recobrar o ânimo, Abraão é instado a tomar uma atitude concreta caracterizada pela oferta do sacrifício.

         O recado de Deus é claro: é preciso ânimo e atitude para que a promessa divina se cumpra.

         Ao levar Abraão a olhar as estrelas e tentar contá-las, Deus está dizendo: “Abraão, sonhe, anime-se”. Mas ao exigir dele o sacrifício, está indicando a outra condição para a concretização da promessa: “faça a tua parte, persiga esse sonho”.

         Quanta gente enganada, esperando debaixo das tendas da vida que Deus cumpra suas promessas de abençoar com paz, saúde e prosperidade! Mas Deus nada fará por nós enquanto estivermos como Abraão, desanimados sob a tenda, pois sonhar e agir são etapas indispensáveis do cumprimento da promessa.

         Para fugir da realidade e de responsabilidades da vida, podemos escolher qualquer tipo de tenda. Menciono apenas uma delas: a tenda do passado.

         O passado não é problema para ninguém. Simplesmente porque não existe mais. Por isso o chamo de tenda, porque a tenda é sempre armada, inventada ou construída por quem quer usá-la. Para quem se utiliza do passado a fim de permanecer improdutivo e fracassado, não interessa se esse passado foi bom ou ruim. O desanimado sempre tira proveito do passado quando quer lamentar-se.

         Assim, alguém que já experimentou o sucesso e hoje vive na derrota, dirá: “eu estive tão bem, e hoje vivo assim, isso não é justo”, “por que aconteceu logo comigo!?”, “é encosto”, “é azar” etc.

         Já quem viveu e ainda vive no fracasso tem o passado como causa de seu insucesso: “é mal de família”, “nasci sem sorte”, “sofri abuso na infância”, “meu pai era alcoólatra e me espancou muito”, “o destino quis assim” etc.

         Mas ambos têm duas coisas em comum: o desânimo e a falta de atitude.

         Quem vive do passado é facilmente identificável por uma qualidade negativa: a falta de capacidade para perdoar. Não perdoa porque não consegue esquecer as coisas ruins que lhe fizeram no passado. E disso brota o ódio, parente próximo do desejo de vingança, que tende a crescer a cada dia, nutrido apenas por ele próprio, o ódio.

         Às vezes o causador do mal até já morreu, mas quem vive debaixo da tenda do passado continua a nutrir o vil sentimento de ódio, que prejudica apenas quem o alimenta. Por causa disso fica doente, vive sem paz, não tem prazer no trabalho, afasta os amigos com suas conversas rancorosas em relação a quem um dia lhe ofendeu. Mas continua inerte debaixo de sua tenda sem janelas para as estrelas. Sem sonhos.

         No entanto, uma voz do lado de fora ainda ecoa: “Sai da tenda, veja o infinito, sonhe, aja, corra atrás do sonho”. É Deus quem convida. Joyce Meyer escreve: “decida abandonar suas cinzas do passado ou isso será tudo o que você terá”.

Por Nilton Kasctin Dos Santos (Promotor de Justiça e Professor)

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