Nasci e cresci na roça. Meus pais eram pequenos agricultores. Estudei em escola rural até à quinta série, depois passei a frequentar escolas da cidade, deslocando-me de lotação paga pelos meus pais. Não havia transporte público. Era sofrido levantar às cinco da manhã e andar dois quilômetros para embarcar na Kombi com destino à escola. Todos os dias, menos domingo só. A estrada era de terra vermelha. Quando chovia muito, até as calças ficavam embarradas. Mas não faltava.
Era sofrido, mas gostoso. Porque eu era um sonhador inveterado. Sonhava em me formar em um monte de coisas e depois voltar para a roça. Porque minha infância e adolescência no interior eram muito boas. Eu e minha família éramos felizes em nosso modo de vida simples.
E não é que realizei meu sonho? Estudei bastante, e agora moro na roça.
No sítio de menos de dez hectares, minha família e eu produzimos quase cem por cento do que comemos, tudo orgânico. Sem veneno e sem adubo químico. Mais de cinquenta variedades de frutas, verduras, legumes, cereais, mel e doces de frutas. Temos uvas frescas por seis meses do ano, além dos respectivos subprodutos, principalmente o vinho, elaborado em parceria com meu irmão Ruben. Temos vaca, peixe e galinha caipira, alimentados sem ração industrial. Assim, temos à vontade ovos, leite, queijos e iogurte natural. Quase não gastamos em supermercado.
E agora quero exaltar a tecnologia. Para mim, o freezer deveria ser considerado uma das principais invenções do homem. Que máquina fantástica! Temos sete delas, grandes. Cheias de feijão, milho, soja, linhaça, ervilha, aveia, trigo, tomate, mandioca, moranguinho, melado e outros alimentos congeláveis. Tudo produzido por nós, sem veneno, bem do jeito que aprendemos a produzir com meu pai e minha mãe, na roça dobrada do Lajeado dos Machados, em Tenente Portela.
Por Nilton Kasctin Dos Santos (Promotor de Justiça e Professor)