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Carta de um pai. Por Nilton Kasctin Dos Santos (Promotor de Justiça e Professor)
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Publicado em 10/08/2023

É assustador o número de filhos que tratam com frieza e até com brutalidade os pais velhinhos que já não conseguem realizar sozinhos pequenas tarefas. Pode ser que esses filhos não sintam amor pelos pais, pois quem sabe os pais os abandonaram ou espancaram quando crianças. E ninguém é obrigado a sentir amor pelos outros. Mas tratar um idoso com frieza ou violência é uma inominável covardia. Além disso, é uma grande burrice, pois logo esse filho estúpido será também um velhinho fraco e doente, e então chegará a sua vez de ser desamparado, humilhado ou surrado. Sim, a lei da semeadura nunca falha.

         A propósito, transcrevo o texto “Carta de um pai”, de Marcelo A. L. Cardoso:

         “Meu filho. No dia em que este velho pai já não for mais o mesmo em ânimo e vigor, por favor, tenha paciência comigo.

         Quando eu derramar comida na roupa ou me esquecer de amarrar o cordão dos sapatos, lembre-se das horas que eu passei ensinando você a fazer essas coisas quando você era criança.

         Se eu ficar repetindo sempre a mesma estória, que você já sabe de cor, por favor, não me interrompa. Me escute e lembre-se de quantas vezes, quando você era pequeno, eu tinha de contar a mesma estória, até que você fechasse os olhinhos e dormisse.

         E quando eu fizer minhas necessidades na roupa, compreenda que não tenho culpa, pois pela fragilidade do meu organismo eu já não posso mais controlar-me. Pense em quantas vezes, quando você era pequeno, eu o ajudei nessas mesmas circunstâncias.

         Não me recrimine por eu não querer tomar banho e nem me repreenda por isso. Lembre-se dos mil pretextos que eu tinha que inventar para tornar mais agradável o seu banho e, então, me aceite e me perdoe, porque agora a criança sou eu.

         Não me recrimine por eu não conseguir compreender as evoluções tecnológicas de agora e dê-me todo o tempo de que eu necessito para compreendê-las, sem menosprezar-me.

         Lembre-se de que fui eu quem lhe ensinou as primeiras coisas, como comer, se vestir e ter educação para enfrentar a vida tão bem como você o faz.

         E se alguma vez, ao conversarmos, eu me esquecer do que estávamos falando, dê-me o tempo necessário para que eu me lembre e, se eu não conseguir, não zombe de mim. Talvez não fosse mesmo muito importante o que eu ia falar.

         E também se alguma vez eu não quiser comer, não fique insistindo. Eu sei que preciso e que devo comer, mas compreenda que, com o tempo, já não tenho dentes fortes para morder e nem paladar para saborear as comidas.

         Quando as minhas pernas falharem por eu estar cansado, dê-me a sua mão para que eu me apoie nela, como eu fazia com você quando você estava começando a caminhar.

         E quando você me ouvir dizer que já não quero mais viver e que tenho vontade de morrer, não se aborreça comigo, pois isso não tem nada a ver com o seu carinho por mim e nem com o quanto eu amo você. Tente compreender que hoje eu já não vivo, mas apenas sobrevivo. E por isso que digo que isso não é modo de viver!

         Finalmente, não fique triste por me ver falando assim. Compreenda e faça como eu fiz com você quando você começou a viver. Da mesma maneira como eu acompanhei você no início do seu caminho, peço-lhe que me acompanhe até que eu termine o meu, dando-me amor e paciência, que eu lhe devolverei com gratidão, sorrisos e o imenso amor que sinto por você.

         Do seu velho pai”.

         É bom aproveitarmos o dia dos pais para refletir sobre isso. Até porque todos seremos idosos. Em pouquíssimo tempo. A vida passa tão rápido. De uma hora para a outra, todos teremos de aceitar a vida de idoso.

Por Nilton Kasctin Dos Santos (Promotor de Justiça e Professor)

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