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A lição da galinha. Por Nilton Kasctin Dos Santos (Promotor de Justiça e Professor)
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Publicado em 10/11/2023

 

         Dirigindo-se ao povo que o havia rejeitado, certa vez Jesus exclamou: “Jerusalém, quantas vezes quis eu ajuntar os teus filhos, como a galinha ajunta os seus pintos debaixo das asas, e tu não quiseste!” (Mt 23.37). O Mestre usa essa comparação com a galinha para ilustrar como Deus deseja proteger o homem do mal.

         A galinha é um animalzinho frágil e desorganizado. Não caça em grupo como os leões. Não armazena comida como a formiga, o esquilo e muitos tipos de pássaros. Não esconde seu ninho de predadores. Faz exatamente o contrário: bota ovo e sai cantando, possibilitando a fácil descoberta do ninho. Para piorar, briga sempre que se encontra com uma galinha estranha, às vezes até morrer ou ficar cega, de maneira que sua vida social é um desastre.

         Mas então por que Jesus se refere à galinha quando fala da proteção divina ao homem? Quem observa como uma galinha cuida de seus pintinhos irá responder com facilidade essa indagação.

         Ocorre que uma galinha é capaz de mudar radicalmente seu comportamento quando está cuidando dos pintinhos. Em primeiro lugar, fica inteiramente à disposição dos filhotes, de dia e de noite, protegendo com suas asas os que desejam debaixo delas abrigar-se, sempre alertando dos perigos e chamando todos para perto de si com voz inconfundível. E os filhotes que estão sob as asas da mamãe galinha, além de não passarem frio nem fome, ficam fora da visão dos predadores.

         Em segundo lugar, quem observa com atenção fica surpreso com a força, a coragem e a determinação da galinha no momento em que algum predador se aproxima dos filhotes. Quando criança, vi por mais de uma vez galinhas mansas e pequenas matarem gaviões enormes que tentavam arrebatar-lhes os filhotes. Esse comportamento de defender tão bravamente a prole não é comum entre os animais.  Até mesmo um tigre ou uma leoa abandonam os filhotes na hora do perigo, para salvar a própria vida. Mas a galinha não. Ela luta até à morte. Entrega sua vida pelos filhotes.

Mas há um detalhe importante nessa história: a galinha só garante proteção aos pintinhos que estiverem muito próximos dela. Jamais ela obriga os filhotes a ficarem por perto; apenas os chama com insistência. Mas também nunca sai de perto daqueles que se agrupam em seu redor para atender algum pintinho peralta que se aventurou a dar uma escapadinha e agora se encontra em apuros.

Com a comparação, o Mestre queria mostrar que assim é nossa vida em relação a Deus. Ele está sempre pronto a nos dar proteção contra toda sorte de mal, mas nós precisamos buscar estar perto dele. Jamais estaremos protegidos enquanto estivermos distantes de Deus. Por isso o Salmista ora assim: “Tem misericórdia de mim, ó Deus... à sombra das tuas asas me abrigo até que passem as calamidades (Sl 57.4). E no salmo 91 ele diz: “Aquele que habita no esconderijo do Altíssimo, à sombra do Onipotente descansará... Ele te cobrirá com as suas penas e debaixo das suas asas estarás seguro. Não temerás espanto noturno, nem seta que voe de dia... Mil cairão ao teu lado, e dez mil à tua direita, mas tu não serás atingido. O Altíssimo é tua habitação. Nenhum mal te sucederá, nem praga alguma chegará à tua tenda...”.

Estejamos sempre pertos de Deus, como aqueles pintinhos que não se arriscam a dar um só passo sozinhos. E não esqueçamos que Deus, como a galinha, só protege aqueles filhos que procuram abrigar-se debaixo de suas asas. Temos total liberdade para nos afastar de Deus. Todavia, se o fizermos, perderemos completamente a proteção divina e passaremos a viver inseguros, como quem caminha num desfiladeiro escorregadio, na escuridão, sem rumo, sem esperança.

Por Nilton Kasctin Dos Santos (Promotor de Justiça e Professor)

Foto: lightpoet / Shutterstock.com

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