A situação do povo basco não é diferente do que acontece com os curdos. Há uma perseguição político-étnica histórica contra esse povo, que na verdade não poderia ser tratado como invasor da Espanha, pois já ocupa a Península Ibérica desde 2 mil a.C.
A luta dos bascos em busca de um pedaço de chão para criar sua pátria surgiu no final do século XV e início do XVI, com a unificação da Espanha em um só reino e a anexação da porção sul da região à Espanha, e da porção norte da região à França.
O problema dos sem-pátria palestinos parece ser de mais difícil solução em relação aos demais. Porque há interesse direto do império político-econômico americano na continuidade da política de exclusão dos palestinos e fortalecimento de Israel.
Atualmente os refugiados palestinos somam mais de 5 milhões; em 1999 eram 3,6 milhões. Estão fora da lista seus descendentes. Para evitar que refugiados continuem se instalando em acampamentos nos derredores do seu território, Israel vem promovendo assentamentos de colonos israelenses nas terras que por Resolução da ONU foram destinadas aos palestinos. Em 50 anos de ocupação da Cisjordânia e da Faixa de Gaza, Israel criou mais de duas centenas desses assentamentos. Para concretização do projeto, apoderou-se de todo o manancial de água da região e confiscou terras já ocupadas por palestinos. Há hoje mais de 200 mil israelitas vivendo na Cisjordânia e outros tantos em Jerusalém Oriental, onde estão em torno de 2 milhões de palestinos. Na Faixa de Gaza, pouco mais de 10 mil israelitas são donos de 20% do território. No restante do terreno espremem-se 2 milhões de palestinos. A Faixa de Gaza é hoje o território com maior densidade demográfica do mundo.
O povo checheno também sofre as consequências trágicas de ter de viver sem pátria. Desde o século XVI, quando os russos conquistaram a região nordeste do Cáucaso, milhões de chechenos sofrem perseguições brutais e são privados de direitos básicos. Devido aos constantes conflitos militares entre a Chechênia e a Rússia, há milhares de refugiados chechenos habitando clandestinamente em países vizinhos.
Localizada no sul da Rússia, a Chechênia é rodeada pelo território russo, mas também faz fronteira com a Geórgia, nas montanhas do Cáucaso. A Chechênia é hoje uma das vinte e uma repúblicas do território russo situadas nas montanhas do Cáucaso. Os russos anexaram a região ao seu território em 1859, depois de uma guerra longa e sangrenta.
Em 1994, os chechenos tentaram separar-se da Rússia, mas o resultado disso foi apenas mais uma guerra sangrenta. Outro conflito de grandes proporções ocorreu em 1999. Depois de cada conflito, seguem mais perseguições, sequestros, torturas e assassinatos contra chechenos. E mais pessoas sem pátria se espalham pelo mundo.
O povo tibetano representa o 10º maior dos 56 grupos étnicos reconhecidos oficialmente pela China. Com quase 10 milhões de integrantes, esses sem-pátria vivem principalmente no sudoeste da China, fronteira com Mianmar, Índia, Nepal, Sikkim e Butão. Mas milhares deles estão também espalhados pelos Estados Unidos, Canadá, Reino Unido, Suiça, Noruega, França,Taiwan e Australha. Todos à espera de uma pátria. Desde a invasão do exército chinês, em 1950, o número de mortes ocorridas no Tibete chega a quase 2 milhões. Só porque buscam uma pátria.
Portanto, não só deveríamos agradecer a Deus e comemorar com entusiasmo por termos uma pátria, mas também devemos procurar entender e apoiar a causa dos sem-pátria. Mesmo que esses povos sejam contra nossa religião ou nossa forma de pensar, logicamente. Viver sem pátria é indigno, aviltante, desumano. É a pior coisa do mundo!
Por Nilton Kasctin Dos Santos (Promotor de Justiça e Professor)