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Quando Deus está ausente. Por Nilton Kasctin Dos Santos (Promotor de Justiça e Professor)
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Publicado em 12/01/2024

Você já se sentiu sozinho diante de um problema? Já se sentiu abandonado pelos amigos ou parentes numa hora difícil da vida? Já experimentou a sensação de que a dor desse momento possa durar para sempre?

         Pois é, quem ainda não passou por isso está sujeito a passar a qualquer momento. Aí então haverá apenas uma saída: Deus. Por isso que costumamos ouvir expressões como “agora só um milagre”, ou, “só Deus para resolver esse problema”.

         E quando Deus não se apresenta para solucionar nosso problema? Quando o milagre não vem? Quando não temos fé em nada? Quando não sentimos confiança em nossa oração? É sobre isso que escrevo hoje.

         O escritor Philip Yancey escreve em “O Deus (in)visível” (Editora Vida, SP, 2001), p. 234: “Não precisamos olhar além da Bíblia para encontrar exemplos da ausência de Deus. “Pois escondeste de nós o teu rosto”, disse o profeta Isaías”. “Por que te comportas como um estrangeiro na terra, como um viajante que fica somente uma noite?”, perguntou Jeremias. Todo relacionamento passa por períodos de proximidade e distanciamento, e, no relacionamento com Deus, por mais íntimo que seja, o pêndulo vai oscilar de um lado para outro. Conheci o sentimento de abandono exatamente quando estava progredindo na vida espiritual, avançando além da fé infantil, para o ponto em que me sentia capaz de ajudar os outros. Subitamente, as trevas se instalaram. Por um ano inteiro, minhas orações pareciam não ir a lugar algum. Não confiava que Deus estivesse ouvindo. Ninguém me havia preparado para o ministério da ausência”.

         Gosto desse escritor, porque me parece escrever a mais pura verdade em todos os seus livros. Inclusive sobre ele próprio, o que não é comum, principalmente quando se trata de um grande intelectual, como é o seu caso. E contando coisas simples da sua vida ele me ensina lições de extrema importância, que me dão forças para continuar a caminhada da fé mesmo nos momentos difíceis. Quando se encontrava na situação deplorável relatada anteriormente, ele teve uma ideia revolucionária. Sem fé e já sem ânimo para orar, compra um livro de orações e o lê inteiro para Deus, depois de explicar ao Pai Celeste:

         - Não tenho palavras próprias. Talvez não tenha fé. Por favor, aceite as orações dos outros como as únicas que posso oferecer neste momento. Aceite as palavras deles no lugar das minhas.

         Depois de muitos dias, já no final da leitura do livro de orações, Yancey tem fortalecida sua fé, e descobre que a ausência de Deus também é necessária na nossa vida de vez em quando. E explica de forma iluminada o significado dessa ausência (idem, pp. 234/235):

         - Aprendi a considerar os períodos da ausência de Deus uma espécie de presença ausente. Se um estudante vai para a escola, seus pais sentem sua falta. Mas não a sentem como um vazio, pois ela tem uma forma, a forma de sua presença anterior. Encontram vestígios dele por toda a casa, e diversas vezes se deparam com algum objeto que o traz à mente. Também têm a esperança de sua volta. Esse é o tipo de ausência criado pelo afastamento de Deus.

         É estranho e paradoxal, mas parece que também precisamos de períodos de fraqueza espiritual, de pouca fé e até da sensação de ausência de Deus. Talvez para sentirmos saudades de Deus, como os filhos sentem do pai que saiu para uma viagem longa. Ou para que possamos olhar para dentro de nós e exclamar com sinceridade: como eu era mais feliz, como era melhor minha vida na presença de Deus!

Por Nilton Kasctin Dos Santos (Promotor de Justiça e Professor)

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