O filho às vezes a encontra chorando. Há momentos em que se torna impossível esconder a dor da saudade e a imensa tristeza que a morte do marido ainda lhe provoca.
Mas é preciso tocar a vida mesmo assim, pois tem consciência de que o filho, agora órfão de pai, necessita de uma mãe forte o bastante para encorajá-lo a continuar a vida rumo à realização de seus sonhos. Sem falar que esse filho é sua única esperança de um dia voltar a ter a vida digna de outrora, quando era sustentada e protegida pelo marido.
Nem imagina que o pior ainda está para acontecer. Não bastasse o sofrimento atroz da falta do esposo, agora uma notícia dilacera o que ainda resta de sua alma despedaçada: o filho querido está morto. Alguém lhe entrega o corpo de seu único amigo e companheiro de verdade. Frio.
Com passos sem sentir o chão, entre pessoas comovidas por tanto sofrimento, segue ela para o cemiteriozinho da cidade de Naim a fim de sepultar o filho, o único bem que possuía. Junto com sua esperança, seus sonhos e sua própria vida. Aos soluços e gemidos, vai murmurando súplicas: “Eu quero o meu filho!”. E perguntas desanimadas: “Meu Deus, por que o Senhor deixou acontecer isso?”. Em lugar de alguma resposta, só a dor. A dor indescritível da mãe viúva que enterra o filho único.
Está quase na hora do adeus definitivo. Do último beijo nas mãos geladas do filho amado. Do último olhar naquele rosto sereno que em minutos há de esconder-se para sempre. Pouco antes, a fantasia e a ilusão ainda lutavam freneticamente contra a realidade implacável. Por momentos até parecia tudo mentira. Mas agora é de verdade. Não tem jeito, esse filho nunca mais voltará para casa. O quarto, as roupas e o lugarzinho à mesa hão de esperar em vão por seu dono. Para sempre.
Amparada para não cair sobre o caixão carregado por estranhos, a pobre viúva já não tem forças para chorar; apenas soluça e balbucia algo que ninguém entende. Sem sentido. Mas não está louca, como a julgam pela aparência. Só está sentindo de antemão a dor da volta para casa depois do enterro. Na realidade não dá para voltar. É injusto infligir tamanha tortura a essa mãe. Até porque a alma de uma mãe que sepulta o filho recusa-se a sair do cemitério.
Ela vai planejando ficar por lá para sempre, ao lado da sepultura do filho, pois isso seria bem melhor, já que, além de seu filho, lá ficarão todos os sonhos dele. E também os dela. Lá ficarão a energia e a beleza da juventude a fazer companhia para a alegria, a esperança, o amor e a razão de viver. Enterrados. Em minutos o cemitério haverá de tomar-lhe o maior tesouro da face da terra. Junto com sonhos, sorrisos, abraços e beijos que jamais acontecerão.
Ninguém do cortejo entenderia, mas seu plano secreto de ficar eternamente no cemitério não é nenhum absurdo. É o único jeito de escapar da dor de voltar a estar em casa. Sem o filho. Ela sabe que agora no quarto dele há só um gélido silêncio. Não dá mais para entrar lá. Ela sabe que o lugarzinho do filho à mesa nunca mais será ocupado. Só ela pode sentir de antemão o tamanho do sofrimento de uma mãe que nunca mais poderá preparar o prato predileto do filho querido. Ou lavar e passar suas roupas. Ela não suportará viver naquela casa sem ouvir a voz doce do filho e sem vê-lo como de costume saindo e chegando em casa.
Arrebatada nesses pensamentos tristes, eis que um homem se aproxima e diz:
- Não chores, mulher!
O cortejo para espantado. O homem toca o caixão e ordena ao morto:
- Levanta-te!
E o rapaz ressuscita na hora.
Num instante todo o mal que destrói sem piedade a vida dessa mulher então desaparece como a névoa na presença do sol.
Bendito seja JESUS DE NAZARÉ!
Feliz Páscoa!
Por Dr. Nilton Kasctin Dos Santos (Promotor de Justiça e Professor)