Sessenta por cento do nosso corpo é composto por água. Nos bebês (que ainda não acumularam gordura) essa proporção chega a setenta por cento. Parece incrível, mas a água está presente até nos ossos (vinte por cento da massa óssea é água).
Sem água não adianta comer, pois é ela que transporta os alimentos até aos órgãos que irão transformá-los em energia. E esses órgãos também não funcionam sem água. Por falta de água ficamos sem sangue, param o cérebro, o fígado, os intestinos, os rins, os músculos, o pâncreas, as vesículas, as glândulas, os olhos etc. E morremos. Sem comida até podemos viver um bom tempo, várias semanas; sem água, não mais que três a cinco dias.
Entretanto, para continuar vivendo necessitamos de outra coisa tão importante quanto a água. A sede.
Quando ainda bebês, a mãe adivinhava nossas necessidades. Dependendo do tipo de choro, ela providenciava leite, chá, comida, troca de fralda, colo, remédio ou coberta. E nunca faltava a mamadeira de água. É. Para as mães, existe também o chorinho da água pura. Por isso as crianças sobrevivem mesmo sem falar e sem poder caminhar até à torneira.
Dependemos da sede tanto quanto da água para sobreviver. Ouvi de uma nutricionista que a sede é para nosso corpo como a luz vermelha da temperatura do motor do carro que, quando acende, não permite esperar um só minuto sem agir: parar e providenciar água. Se quisermos continuar um pouco mais sem água, o prejuízo é certo. Então a sede é como um pedido de socorro. Se não existisse esse valioso mecanismo em nosso corpo, morreríamos sem saber de que. Não seria surpresa encontrarmos todos os dias dezenas de pessoas caídas pelas ruas, umas mortas, outras moribundas. Por falta de água. Na verdade, por falta de sede.
A sede é um presente de Deus em nossa vida. A condição que nos impulsiona a beber água. Então ela é condição da própria vida.
Mas esse mecanismo que acusa a necessidade de água no corpo físico também deve estar presente em nossa alma. Se não, morreremos como ser, como criatura integrante da Obra da Criação. E também como imagem de Deus.
Então Deus não preenche o vazio da nossa alma, quando o buscamos e seguimos? Sim, mas jamais completamente. Por isso nunca enjoamos de Deus. Jamais sentiremos náuseas, indigestão, mal estar por termos bebido demais da fonte do bem. E o mais importante é que quanto mais bebemos da verdadeira água da vida, mais sentimos sede na alma e mais buscamos beber de Deus. E quanto maior for essa sede e mais bebemos dessa fonte, mais felizes, fraternais, sábios e fortes nos sentimos, e maior ainda fica a nossa sede de Deus. E aí nossa mente e nossas ações se voltam para a prática do bem, que se traduz no amor ao próximo e a Deus. Amar ao próximo é ajudar os mais fracos; amar a Deus é cuidar do meio ambiente, cuidar das coisas do Criador.
Assim deve viver quem se diz seguidor de Cristo. O cristianismo tem que ser uma estrada por onde caminham eternos sedentos. Sedentos de Deus. Sedentos de fazer o bem.
A sociedade moderna está repleta de mortos e moribundos de espírito. Porque perderam a sede de Deus. Dentre estes, grande parte dos líderes religiosos, que pensam conhecer tudo do reino de Deus. Que têm o monopólio da unção divina e por isso só estão no mundo para ensinar, corrigir e julgar os outros.
Mas é fácil saber quem são estes que perderam a sede de Deus. Basta perguntar para sua família como se relacionam em casa. Ver as mensagens de ódio que postam em suas redes sociais. Saber o conceito que os vizinhos lhes atribuem. Ver se mantêm a serenidade, se não perdem a compostura diante de um debate de ideias. Observar se ajudam os pobres e se fazem algo em defesa da natureza.
Quem não passar no teste está morto ou morrendo espiritualmente, não importa se é religioso, rico, pobre ou autoridade. Sua alma agoniza sequiosa. Perdeu a capacidade de sentir sede de Deus.
Por Dr. Nilton Kasctin Dos Santos (Promotor de Justiça e Professor)
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