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Governo silencioso. Por Dr. Nilton Kasctin Dos Santos (Promotor de Justiça e Professor)
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Publicado em 09/05/2024

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         O escritor israelense Amós Oz criou em uma de suas obras a personagem Hanna para testemunhar a existência de uma energia natural (ou sobrenatural) que rege o universo de forma imbatível, perpétua e silenciosa.

         Da janela Hanna costuma observar um panelão enferrujado pendurado em uma figueira do quintal. Sempre indagando a si mesma sobre quem teria colocado aquele objeto ali e há quanto tempo, lembrando que, quando nasceu, a panela já estava lá no mesmo galho, porém mais perto do chão, pois a figueira ainda não era tão alta.

         Certo dia a contemplação de Hanna é abruptamente interrompida por um acontecimento fantástico: a alça de metal enferrujado que ainda servia de sustentação se desintegra, e num estrondo a velha panela espatifou-se no chão. - Mas por que isso aconteceu, se não há vento, brisa, orvalho, se nenhum pássaro tocou o galho? – pergunta-se.

         Analisando esse episódio, o escritor canadense Eugene H. Peterson assim se expressa: “O domínio de Deus não está sendo preservado para começar em uma data futura, após séculos de governos humanos. Deus governa hoje. Ele não depende de reconhecimento público. Saibam ou não, homens e mulheres vivem sob o governo de Deus... Não existem dias em que Ele não opera. A semana não se divide em um dia do Senhor e seis dias humanos em que indústrias, bolsas de valores, legislaturas, personalidades da mídia e juntas militares assumem o controle e governam com mentiras, armas e dinheiro” (PETERSON, Eugene H. Onde o Seu Tesouro Está, RJ, Ed. Textus, 2005, pp. 77/78).

         Deus governa o mundo em harmonioso silêncio. A cidade de Jerusalém passou por bombardeios, atentados terroristas, modernização tecnológica e radicais transformações sociais enquanto a ferrugem, sem que ninguém percebesse, continuava seu lento e infalível trabalho de destruir a panela de ferro. Indiferente às loucuras do comportamento humano. Assim Deus reina. Sem pressa.

         Tudo o que Ele criou está inabalavelmente unido a um sistema perfeito, e assim há de continuar, queira o homem ou não. Mas o Criador não usa a força. Nem castigo. Quando os discípulos perceberam que os samaritanos não receberiam Jesus, tiveram logo a ideia de que sobre eles deveria descer fogo do céu para destruí-los (Lc 9.54). Mas o Mestre responde: “Não vim para destruir; vim para salvar” (Lc 9.56). Violência, injustiça e ganância que destrói o próprio habitat pertencem ao reino dos homens; o reino de Deus é feito de paz, justiça, simplicidade, humildade e respeito a todas as formas de vida.

         O salmo 93 contém a seguinte oração: “O senhor reina! Vestiu-se de majestade e armou-se de poder... O mundo está firme e não se abalará. O teu trono está firme desde a antiguidade... Os teus mandamentos permanecem firmes e fiéis”.

         O sofrimento experimentado com os atuais desastres naturais é consequência direta das modernas invenções humanas, que desprezam a única forma de existir: o respeito pela vida de todos os seres planetários. Mais. Destruindo florestas e animais, poluindo e construindo cidades no lugar das águas, o homem se conduz como um suicida, desprezando a própria vida.

         Enquanto isso, mesmo agonizando em razão do comportamento do homem, a terra continua produzindo flores e frutos. O sol continua surgindo a cada manhã, e a lua obedecendo com rigor aos ciclos que influenciam a vida natural. Enquanto o homem despreza a natureza e suas leis, a obra da Criação continua sustentando a existência humana e de todos os demais seres, animados ou não. Porque Deus governa o mundo independentemente da estultice do homem. Suas leis permanecem firmes. A glória do homem “é como a flor da erva. Secou-se a erva, e caiu a sua flor; mas o governo de Deus permanece para sempre” (1 Pe 1.24). Silenciosamente. 

Por Dr. Nilton Kasctin Dos Santos (Promotor de Justiça e Professor)

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