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Minha semana do meio ambiente. Por Dr. Nilton Kasctin Dos Santos (Promotor de Justiça e Professor)
Notícias
Publicado em 07/06/2024

A finalidade da tal semana do meio ambiente é promover a conscientização sobre a necessidade de preservação da vida. Não imagino coisa mais inútil em termos de resultado, pois a degradação ambiental cresce de forma assustadora a cada dia.

         Acho que a data serve apenas para provar que o ser humano definitivamente se desconectou da natureza. Do contrário, não precisaria reservar uma data para ações de conscientização. Se o homem ainda tivesse alguma relação natural com o meio ambiente, estaria desempenhando seu papel de animal, e isso bastaria para não destruir o Planeta.

         Dá tristeza pensar no tipo de ações que vi pela região afora, a pretexto de comemorar a dita semana. Seminário sobre plantio direto de monoculturas agrícolas que sabidamente vêm detonando o resto da vida do solo, da água e do ar com intensa utilização de pesticidas e adubos químicos. Cursinhos de reciclagem de lixo e compostagem para “ensinar” o que já se sabe há mais de 6 mil anos. Vi ainda se repetirem os surrados plantios de árvores. Para cortá-las quando adultas, logicamente.

         Uma coisa ainda não tinha visto: um curso de aplicação “correta” de agrotóxicos. Na semana do meio ambiente!

         Pior é o que vi no primeiro dia da tal semana. Uma exposição de pássaros presos em gaiolas. Isso não estava na programação da semana. Mas poderia estar, que o resultado para a preservação seria o mesmo: nenhum.

         Cidadãos que até se dizem cristãos levaram as crianças para verem passarinhos presos sofrendo a pior tortura que um ser vivo pode experimentar: a perda da liberdade. Se a exposição fosse de humanos presos, seria uma espécie de campo de concentração de guerra, uma barbárie inominável, com protestos do mundo inteiro. Mas eram só pássaros. A liberdade é para o ser humano, apenas. Os outros seres não precisam disso. É o que pensa a sociedade toda.

         Se dependesse de mim, esse evento seria diferente. Não apenas uma semana, nem um mês, mas eu inventaria a década ou o século do meio ambiente. E levaria todas as pessoas a conhecer como é atroz o sofrimento dos animais criados para servir de alimento ao homem.

         Mostraria a indizível tortura das porcas grávidas e lactantes fechadas em grades de ferro do tamanho exato dos seus corpos, sem poder se mexer ou olhar para trás, muito menos virar-se de lado ou coçar-se. Elas não têm vida; apenas existem imóveis à espera da morte. Para se transformarem em salame. 

         Mostraria os imensos galpões onde ficam trancafiadas nas sombras as galinhas poedeiras, em gaiolas de arame menores que um papel de ofício. Com o bico mutilado para não comer a própria carne devido ao estresse insuportável. Sem poder ciscar ou comer insetos e vegetais. Com as unhas extirpadas, sem bico, sem sol, sem poder caminhar nem abrir as asas, são apenas máquinas tristes de produzir ovos em série para os humanos. São produzidos assim todos os ovos do supermercado.

         Mostraria o sofrimento dos pintinhos, pássaros e outros animais nos comércios agropecuários da cidade, empilhados em gaiolas como mercadoria barata. Fechados no escuro dentro das lojas durante os feriados e fins de semana, enquanto os humanos descansam e se divertem.

         Mostraria à sociedade o desespero das vacas de leite quando seu bezerro é morto a pauladas ou separado para sempre da mãe assim que nasce, para que não mame o leite destinado ao comércio. Por causa da dor da ausência do filho, a vaca berra por mais de semana, dia e noite, e lambe convulsivamente as tábuas da estrebaria, num gesto de profundo desespero para ver se consegue transmitir um pouco de cuidado e o imenso amor que sente pelo filho. Ela sabe que o filhote, se não foi executado, está passando pelo pior sofrimento que um ser vivo pode sentir: a solidão, a saudade da mãe, a indescritível angústia pela ausência do calor da mãe.

         Levar a comunidade inteira a passar a semana do meio ambiente presenciando essas situações de inominável crueldade seria ótima opção para “comemorar” o evento.

Por Dr. Nilton Kasctin Dos Santos (Promotor de Justiça e Professor)

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