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Carregando nossa mala. Por Nilton Kasctin Dos Santos (Promotor de Justiça e Professor)
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Publicado em 07/07/2023

Conta-se que um jovem, desejando ganhar dinheiro para poder casar, viaja para longe a fim de arranjar um trabalho que lhe desse boa remuneração. Anda a pé por 10 dias até que encontra um patrão que, além de pagar bem, revela-se um excelente conselheiro. Lá fica por dois anos sem qualquer notícia da noiva amada, sentindo a cada dia a saudade apertar-lhe mais o peito.

         Quando chega a hora de voltar, o patrão faz as contas e pergunta:

         - Ao invés de pagar-lhe em dinheiro, posso fazer o pagamento em forma de aconselhamentos?

         - Não estou entendendo – retruca o moço, sem esconder um semblante de total perplexidade. E continua: – o senhor sabe que trabalhei todo esse tempo com o objetivo exclusivo de reunir dinheiro para casar-me, e agora ouço essa proposta tão estranha... Logo do senhor, um patrão tão justo e bom?!

         Interrompendo a fala do jovem, o homem vai explicando:

         - Eu sei, mas acontece que os conselhos que tenho para te dar valem muito mais que dinheiro, e servirão para o resto da tua vida. Afinal, gostei muito de ti e por isso acho que você merece meus conselhos.

         Embora tenha hesitado por um bom tempo, o jovem acaba aceitando os conselhos no lugar do pagamento em dinheiro, dentre os quais um era este: “jamais aceite algo sem custo ou esforço”.

         Depois de providenciar alimentos para a viagem toda, o patrão então lhe entrega um pacote com um presente que só deveria ser aberto na casa da noiva.

         Parte pensativo, esforçando-se para crer que fizera a melhor escolha.

         Já cansado, inicia a travessia de uma mata intensa por uma estradinha pedregosa. Cerro acima. Sua mala agora pesa mais. Repentinamente, surge da mata um simpático senhor que, sorridente e prestativo, oferece-se para carregar a mala pelo resto do caminho, acrescentando:

         - Faço isso de graça para que os viajantes não precisem esforçar-se na viagem.

         Embora a tentação fosse grande, o moço lembra o conselho: “jamais aceite algo sem custo ou esforço”. E recusa a proposta.

         Ao chegar a um vilarejo mais adiante, fica sabendo que o “bom homem”, com aquela artimanha, já tinha roubado os pertences de muitos viajantes.

         Já na casa da noiva, abre o dito pacote entregue pelo patrão. Que surpresa! Dentro está todo o dinheiro do seu trabalho.

         Certos líderes religiosos agem exatamente como esse homem que se oferece para carregar a mala. Pregam um evangelho “sem custo”. Prometem milagres e mais milagres que levarão as pessoas a uma vida de abundância material, saúde e felicidade, longe de qualquer problema. Ainda afirmam que Deus está exclusivamente na sua religião e que as outras não prestam. Ora, esse não é o evangelho de Cristo. Não é o evangelho do Reino. O evangelho inaugurado por Jesus é algo infinitamente melhor, e tudo o que é melhor tem custo, sim. Jesus disse: “quem não toma a sua cruz e não me segue não é digno de mim” (Mt 10.38).

 

         Devemos optar por seguir o conselho de Cristo, carregar nós mesmos a nossa mala, a cruz de cada um. Claro que Deus faz milagres, mas nunca devemos acreditar que alguém ou alguma religião trocará nossa cruz por milagre de riqueza material e felicidade permanente. A fé torna nossa vida incomparavelmente melhor. Podemos ser felizes, mas sem largar a cruz. Com Cristo ou sem Ele enfrentaremos problemas no mundo. Mas com seus ensinamentos em nossa vida não há lugar para ódio, tristeza e desânimo. As lutas e dificuldades se apresentam para todos nós, uma hora ou outra. Todavia, para quem segue os ensinamentos do Mestre, nenhum sofrimento poderá roubar-lhe o sonho, a paz e a esperança.

Por Nilton Kasctin Dos Santos (Promotor de Justiça e Professor)

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