Costumamos dizer que o futuro a Deus pertence. Claro que o homem moderno consegue prever certos acontecimentos, embora de forma relativa, sem exatidão, mas nada que diga respeito a assuntos mais complexos. Por exemplo, uma criança não pode saber qual a profissão que exercerá depois de adulta, se irá casar, ter filhos, dinheiro, saúde, felicidade. Não sabemos se um dia seremos assaltados, se ficaremos doentes, muito menos o dia em que morreremos.
Mas é bom que seja assim. Do contrário, nossa vida seria completamente sem sentido. Se soubéssemos o dia da nossa morte, com certeza passaríamos contando as horas de vida restantes, e quanto mais perto o funesto acontecimento, mais tensos e preocupados ficaríamos. E não adianta argumentar que usaríamos todo o tempo de vida para uma espécie de preparação para a morte, já que o instinto de viver é sempre mais forte e maior do que qualquer outro tipo de sentimento. Se uma criança já soubesse com quem vai se casar quando crescer, não seria mais necessário que adolescentes e jovens experimentassem as fantasias e sonhos românticos típicos dessa época da vida. E sem fantasias e sonhos não teria por que existirem músicas, poesias, livros e filmes românticos, roupas bonitas e perfumes bons.
Já ouvi muitas vezes essa indagação: “se Deus sabe tudo sobre o futuro, então por que Ele não revela de forma direta o que está por acontecer em nossa vida?” Nossa tendência é responder que Deus não quer que saibamos do futuro, e ponto final. Mas refletindo um pouco, é fácil concluir que nem é necessária a intervenção divina para prevermos o que nos reserva o futuro naquilo que realmente importa. Porque temos o valioso privilégio de poder construir conscientemente o alicerce do nosso futuro. Portanto, de forma clara e direta, somos capazes de saber previamente se nosso futuro será bom ou ruim, bastando para isso que levemos a sério os princípios milenares insculpidos em todos os livros sagrados.
A Bíblia condena os vícios e a vida indisciplinada, por exemplo. Então uma pessoa que passa anos e anos bebendo, fumando, jogando, comendo demais e dormindo pouco já sabe de cor e salteado que seu futuro será ruim, pois no processo de construção de seu futuro usou como base os ingredientes que levam à destruição da família, da credibilidade, da saúde etc. A preguiça é apontada nas Sagradas Escrituras como pecado. Um jovem com preguiça de estudar e trabalhar, portanto, não pode esperar viver um futuro honrado, de prosperidade financeira, liderança comunitária e destaque intelectual.
No livro de Eclesiastes está escrito: “Lembra-te do teu Criador nos dias da tua mocidade, antes que venham os maus dias, e cheguem os anos dos quais venhas a dizer: não tenho neles contentamento; antes que se escureçam o sol, e a lua, e as estrelas”. Ora, “lembrar-se do Criador nos dias da mocidade” com certeza não significa cantar, orar, jejuar, ir à igreja. Significa, para um jovem, trabalhar com prazer, buscar conhecimento e praticar o bem em relação aos outros e à natureza. Como princípio inquestionável. Sem essas três coisas em nossa vida, não há esperança de futuro bom.
É até paradoxal, mas em relação ao nosso futuro Deus cuida apenas das coisas miúdas que contribuem para nossa felicidade, cabendo a nós o grosso da construção. Deus nos garante um futuro feliz, tanto no plano material como espiritual. Mas há uma condição: se cuidarmos bem da construção do nosso futuro, empregando nela material de primeira linha. Por isso afirmo sem medo de errar que o futuro pertence a nós.
Por Nilton Kasctin Dos Santos (Promotor de Justiça e Professor)