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A família dos cachorros e a maldade humana. Por Nilton Kasctin Dos Santos
Notícias
Publicado em 03/08/2023

Pensando em escrever mais um texto sobre a maldade contra os animais, eis que me deparo no Facebook com a seguinte postagem do amigo Sílvio Meincke: “Na natureza selvagem, os cães vivem em matilhas e descobrem o mundo juntos, sempre na companhia uns dos outros. Juntos brincam, juntos saem a caçar, juntos se divertem, se defendem, buscam abrigo e descansam. O cachorro não é feito para viver sozinho, amarrado e preso”.

        As sábias palavras desse mestre, ilustre escritor e pastor luterano me impulsionaram a colocar “no papel” uma reflexão indignada sobre a maneira cruel com que as pessoas tratam os cachorros.

        Matilha é a família dos cachorros. Com pais, filhos, irmãos e muitos outros indivíduos, como tios, sobrinhos, avós, netos, primos, amigos e até líderes comunitários. A família dos cachorros é grande assim. Bem organizada. E a base dessa organização não é uma imposição legal, mas a necessidade de sobrevivência e o afeto, o amor.

        Hoje no Brasil a lei prevê para os humanos a chamada família extensa, um conceito milenar sem dúvida copiado desse espetacular modo de vida dos animais. Para a lei brasileira, o principal ingrediente para a formação de uma família é o amor. Pode-se formar uma família até com mais de um pai, mais de uma mãe ou com irmãos que não nasceram dos mesmos pais. Mas firmada no amor. Como a família dos cachorros.

        Sim, a família humana autêntica é formada a partir do amor. Porque do amor é que nascem o comprometimento, a solidariedade, a fidelidade, a lealdade e o desejo de ver o outro feliz. Essa família não precisa de lei. Essa família pode até participar de igreja, mas não depende dela para nada, pois seu pastor é o próprio Deus, o inventor do amor. Essa família não precisa de ideologias, muito menos de políticos. A família que nasce e vive do amor anda no piloto automático, é autoprogramada para ter fé, servir e sonhar alto, por isso é imune às influências do mal. Essa família não precisa de defesa política. Por isso aquele político que diz defender a família está enganando o eleitor. Na verdade só existe uma instituição capaz de defender a família: a própria família. A família que vive do amor.

        Mas veja como as pessoas são cruéis com as famílias dos cachorros, cuja base (o amor, o afeto) é exatamente a mesma da família humana. Arrancam um filhote de uma família de cachorro e vendem ou doam para passar a viver com estranhos, num lugar estranho, sozinho, longe de sua família amorosa. Para sempre.

        Se alguém fizer isso com seu filho, com sua mãe ou seu pai você facilmente verá que é bem ruim. Aterrorizante. Com os cachorros é a mesma coisa. O amor que eles sentem é exatamente igual ao de sua família. Amor é amor, não tem maior ou menor.

        Na prisão da casa de uma família humana, sozinho, o cachorrinho não entende o que aconteceu. Sente medo, tristeza, solidão. Exatamente como os humanos nessa condição. Com o tempo, no desespero pela sobrevivência, já que por natureza não pode viver sozinho, esse filhote cria um certo vínculo com seu algoz (o novo dono). O vínculo do sequestrado com seu sequestrador. Depois vai acostumando e por instinto até simula uma vida em família novamente, com os humanos. Por isso até se diz que o animal faz parte da família.

        Mas os humanos saem para trabalhar, jantar ou viajar. A cada vez que isso ocorre, o cachorro (filhote ou adulto) entra em pânico. Pânico é medo em excesso, ansiedade, angústia e confusão mental. Uma tortura inominável. Tudo junto. Um cão jamais irá acostumar ficar sozinho. Porque ele não consegue entender que o dono vai voltar. Não pode lidar com ideias, com abstrações. Sua percepção quando está sozinho é de que sua vida chegou ao fim.

        O que escrevi é comprovado pela ciência. Portanto, se precisar um só dia deixar um cachorro sozinho em casa, não tenha o animal. Ele só sabe viver na companhia da família.

Foto: Arquivo Rádio JB

Por Nilton Kasctin Dos Santos (Promotor de Justiça e Professor)

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