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Reflexão. Por Nilton Kasctin Dos Santos (Promotor de Justiça e Professor)
Notícias
Publicado em 01/09/2023

Um pai indiano, sem tempo para levar o carro à oficina, pede para o filho adolescente fazê-lo. Antes adverte o filho acerca do horário que deve apanhá-lo na volta do trabalho, pois possui compromissos para o turno da noite:

         - O conserto do automóvel não demora mais que uma hora. Assim, no máximo às cinco estará pronto. Preciso que me apanhe às seis em ponto.

         De fato, o procedimento de conserto foi rápido; o carro ficou liberado antes das cinco. Mas o filho havia aproveitado para ir ao cinema com amigos que encontrara perto da oficina. Depois do filme, distraído a conversar e passear pelo shopping, nem nota o tempo passar. Já são quase dezenove horas quando se dá por conta. Depressa despede-se dos amigos, corre para a oficina, toma o carro e sai dirigindo acima da velocidade permitida, tentando ganhar pelo menos alguns minutos a fim de não experimentar repreensão tão severa do pai.

         No caminho vai pensando seriamente em uma desculpa qualquer. Furou pneu, o carro quebrou novamente, a polícia o atacou, o trânsito estava congestionado etc. Assim que ingressa na rua do escritório, avista o pai com sua maleta, andando para um lado e outro sem tirar os olhos do relógio.

         - Por que demorou tanto? - pergunta o pai, assim que entra no carro, esforçando-se para aparentar serenidade.

         Atordoado pelo fato de ver-se cara a cara com o pai, o rapaz esquece tudo o que havia ensaiado. E fala o que lhe vem à cabeça:

         - Esse mecânico é um incompetente; quando terminou o serviço já eram dezoito e quarenta.

         Mas o pai havia telefonado para a oficina, e já sabe que o conserto ficara pronto antes das cinco horas. Desapontado, porém sem demonstrar irritação (como devem proceder todos os pais), o homem surpreende o filho com uma atitude radical:

         - Meu filho, pare o carro, por favor.

         Abre a porta e desce lentamente, sempre olhando nos olhos do filho, enquanto explica:

         - Vou seguir a pé. Preciso refletir sobre o tipo de pai que tenho sido. Estou criando um filho que mente para o próprio pai. Imagine o que não será capaz de fazer para as outras pessoas! E o culpado sou eu. Você apenas me segue de carro. Quando eu sentir que basta, então iremos para casa.

         E assim aquele homem anda por seis quilômetros, sob o olhar perplexo do filho, que chora copiosamente enquanto dirige, arrependido e já convicto de que nunca mais agirá com desonestidade.

         A cinco quilômetros da cidade, numa estradinha deserta, perto da meia noite, o pai finalmente para de andar. Trôpego, ofegante, entra no carro. Com a mesma serenidade, ordena que o filho conduza o veículo em direção à casa.

         Três quilômetros, e até agora só o soluçar profundo do filho a quebrar o silêncio do interior do carro. De repente ele estaciona, desce, contorna o carro e abre a porta do pai, solicitando com respeito que também desça do automóvel. Com o rosto banhado em lágrimas, abraça o pai e vai dizendo:

         - Perdoa-me, querido pai, nunca mais mentirei para quem quer que seja. E de hoje em diante farei tudo o que for necessário para ser exatamente igual ao senhor. Quando tiver meus filhos, vou ensiná-los a serem honestos para que um dia também sejam como o senhor.

Por Nilton Kasctin Dos Santos (Promotor de Justiça e Professor)

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