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Projeto Voluntário da UFRGS devolve nariz e autoestima a aposentado que perdeu o órgão após câncer
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Publicado em 11/10/2023
Imagine, você se olhar no espelho e não enxergar a pessoa que definia a sua própria identidade. Por dois anos, essa foi a realidade de Ricoberto Bohn, 70 anos, morador do município de Feliz, no Vale do Caí. Após três de meses de muitas dores localizadas, o aposentado descobriu um tumor maligno no nariz, que resultou na necessidade de remoção do órgão em 2018. Graças a um projeto voluntário desenvolvido na Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), uma prótese fez do ex-caminhoneiro sinônimo da cidade onde mora.
Lancinantes, as pontadas que sentia levaram Ricoberto ao médico de Feliz, que recomendou uma consulta no Hospital São Lucas da PUCRS. A preocupação era pertinente: tratava-se de um carcinoma epidermoide, tipo de câncer de pele que, mesmo surgindo em região cutânea superficial, é agressivo e pode originar metástases em órgãos internos e distantes.
— Me disseram: “Se esperarmos mais um tempo, o senhor vai perder todo o seu rosto, aí não teria mais o que fazer, não” — conta o aposentado.
Não havia mais tempo, era preciso remover o nariz, o mesmo que se atraía pelo odor do couro dos bancos do caminhão, o mesmo que aprovava o aroma das receitas feitas pela companheira de vida, Lúcia, 68 anos.
— Foi um baque muito, muito forte. Ele olhou pra mim e disse: "Meu Deus, eu vou perder o meu nariz." Respondi que ele não iria perder a vida — lembra a esposa.
Dois dias após o processo cirúrgico, que deixou duas cavidades expostas no seu rosto, Ricoberto ainda passou por 37 sessões de radioterapia. Mesmo que o câncer não tenha se espalhado por seu corpo, o período foi de muita tristeza na família.
— Eu pensava: “O que vai ser de mim, o que o pessoal vai falar? Estou sem nariz e sem chão”.
O aposentado precisou se acostumar com a nova realidade, que ficou ainda mais adversa com o início da pandemia. A única forma de apoiar os necessários óculos era sobre os curativos que protegiam a abertura localizada entre os olhos. A respiração também se tornou comprometida e só era facilitada se fosse por meio da boca.
Depois de dois anos, Ricoberto foi encaminhado ao Serviço de Prótese Bucomaxilofacial (PBMF) coordenado pela professora da UFRGS Adriana Corsetti. O projeto de extensão está melhorando a qualidade de vida de pacientes que perderam partes do rosto devido a acidentes ou doenças. O grupo, formado por docentes e pesquisadores da Faculdade de Odontologia, criou um programa com recursos próprios e que desenvolve os moldes de forma gratuita.
O serviço está disponível pelo Sistema Único de Saúde (SUS), e a fila de espera, que contempla pacientes de todo o Brasil, é grande. Ricoberto e outros cerca de 150 pacientes foram atendidos no Laboratório Bucomaxilofacial da universidade e mais de 80 pessoas aguardam para conhecer o trabalho de professores e alunos e ter suas autoestimas devolvidas.
Ricoberto ainda frequentava a casa dos vizinhos, o mercado e as missas na Feliz, mas, segundo a professora especialista em PBMF e doutora em cirurgias bucomaxilofaciais, a maioria dos pacientes evita sair às ruas, por vergonha de suas condições.
A esperança de Adriana é pelo financiamento do programa, para que a fila de espera seja zerada.
As próteses nasais, que podem ser removidas facilmente pelos pacientes, são feitas de silicone de forma manual. Boa parte do material desenvolvido no laboratório foi doado por professores e alunos que fazem parte do programa.
A cada nova consulta, depois da instalação da prótese, o paciente paga apenas R$ 5 para colaborar com a manutenção do laboratório.
FONTE: JORNAL ZERO HORA
FOTO: UFRGS
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