Um líder verdadeiro sempre acredita que pode. E mesmo sucessivos fracassos não são suficientes para detê-lo na estrada do sonho, pois ele sempre recomeça. Um líder chamado Henry Ford costumava dizer: “quer você acredite que pode ou que não pode fazer determinada coisa, você está certo”.
Líder está sempre na turma dos que acreditam que podem. Não se atemoriza diante dos obstáculos, sejam grandes ou pequenos. Pena que os que acreditam que não podem são a grande maioria das pessoas.
Outro dia perguntei a um jovem qual o motivo que o levara a parar de estudar sem pelo menos completar a faculdade. Senti tristeza quando ouvi a resposta: “não tenho condições financeiras”. Como se isso fosse algum empecilho para estudar. Sem falar que o rapaz mora com os pais a poucas quadras da universidade. Esse é um exemplo típico de quem acredita que não pode. Já o cozinheiro Neemias acredita que pode reerguer dos escombros uma nação inteira, sem ser militante político, sem dispor de recursos financeiros e ainda em meio a forte oposição de inimigos astuciosos.
Mas ser líder verdadeiro não significa apenas supervisionar os outros; é colocar “a mão na massa”, é puxar a frente no trabalho mais difícil. Por isso já escrevemos que ser líder verdadeiro nada tem a ver com ser autoridade, chefe, gerente ou comandante. Autoridade serve para mandar; líder vive para servir, como disse Madre Tereza. Líder inspira os outros a seguirem seu exemplo de sonhador, disciplina e trabalho.
E nisso também Neemias nos deixa uma grandiosa lição. Acredita que pode resgatar a dignidade e a cidadania de sua nação. E, ao planejar como fazê-lo, coloca-se ele próprio na lista dos pedreiros principais da obra. Enquanto reconstroem a muralha de Jerusalém, os inimigos ameaçam atacar a todo instante, o que obriga os construtores (dentre eles Neemias) a transformarem-se também em soldados. Trabalham com uma das mãos, segurando a espada com a outra. E o líder Neemias sempre na vanguarda do grupo.
Quando morava em Brasília para cursar a Academia Nacional da Polícia Federal, certo dia passei com um colega brasiliense por uma região onde existem inúmeras mansões de altíssimo padrão. – Os donos daqui são engenheiros, empresários e caciques políticos que ajudaram a construir Brasília – explica meu colega de Academia. E arremata: - Mas essas mansões de 20 ou 30 milhões não são nada para essa gente; eles também são donos dos maiores prédios comerciais e residenciais da cidade, das empresas importantes e das maiores fazendas de Goiás.
É assim mesmo. Autoridades, chefes, gerentes e diretores estão sempre propensos a enriquecer rápido quando encontram uma oportunidade de administrar um projeto como a construção ou reconstrução de uma cidade.
Mas o líder verdadeiro comporta-se de modo bem diferente, prioriza o coletivo em detrimento do particular, atua sempre em benefício do social. Neemias dá testemunho disso: [...] “quando fui nomeado governador, nem eu, nem meus irmãos comemos a comida destinada ao governador. [...] jamais exigi a comida destinada ao governador, pois eram demasiadas as exigências que pesavam sobre o povo” (Ne 5.14-18).
Mais que um exemplo de honestidade, Neemias dá uma importante lição de humildade, fraternidade e coerência com o propósito do sonho de restaurar a dignidade do povo.
Não há erro no fato de um governador comer das iguarias finas do palácio. Mas na situação miserável em que se encontram seus irmãos, uns recém chegados do cativeiro, outros há tempo mendigando entre os entulhos da Jerusalém destruída, Neemias não se sente bem apartando-se deles para comer. Até porque precisa aproveitar a oportunidade sagrada da refeição conjunta para sedimentar laços de cidadania e amor fraternal entre seu povo (continua em edição posterior).
Por Dr. Nilton Kasctin Dos Santos (Promotor de Justiça e Professor)