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A Branquinha foi para o céu. Por Dr. Nilton Kasctin Dos Santos (Promotor de Justiça e Professor)
Por Rádio JB
Publicado em 26/03/2025 21:14
Opinião

Gostaríamos que o Papa Francisco estivesse aqui. Estamos precisando das palavras de consolo que ele falou ao menino que chorava a morte do seu cachorrinho: “Filhinho, não chore, ele foi para o céu. E quem ama os animais vai viver para sempre com eles no paraíso”.

         Nossa Branquinha morreu. Um acidente triste, inaceitável. Era preta como carvão, com as patinhas bem branquinhas. Inteligente, prestativa e amorosa. Com chuva ou sol, nos recebia atenta no portão, sempre no mesmo lugarzinho. Não sei como, mas dentre dezenas de automóveis e caminhões que passavam em fila na estrada, ela sabia exatamente quando o carro que se aproximava era o nosso.

         Não conheceu coleira, corrente ou corda, assim como os outros cachorros que moram aqui. Vivia feliz em um pátio enorme, com gramado, terra, muita sombra e lugar para tomar sol. Foi bem cuidada. Com amor fraternal, paternal, sei lá, enfim, com o mesmo amor com o qual ela nos cuidava: o amor de Deus, o verdadeiro amor.

         Sim, o amor de Deus, que não tem cor, espécie, raça ou gênero. É o amor de todos os animais. Era o amor da Branquinha por nós. É o nosso amor por ela. Eternamente. Francisco está certo: o céu é para todos os animais. E para alguns seres humanos também – os que aprenderam amar como os animais, sem esperar nada em troca. Mas o céu sem os animais seria completamente sem sentido. Inútil para nós.   

         Não me canso de dizer que o homem é como qualquer outro animal, no aspecto biológico, na medida em que se nutre das mesmas substâncias que servem de comida e bebida a todos os seres vivos.

         Mas espiritualmente deveria ser como o próprio Deus. Dentro do homem deveria pulsar o espírito de Deus. Sobre isso, veja-se o que o Criador fala ao homem, assim que conclui a magnífica obra da Criação:

          - Adão, isso tudo é meu. Quero que você exerça a liderança sobre todos os animais e todas as plantas da terra e da água. É muita coisa, e tudo é muito complexo na minha obra. Por isso soprei dentro de você o meu espírito. Você pode dar conta de governar como eu quero, pois agora você é semelhante a mim.

         E dá ao homem a tarefa de inventar os nomes dos animais. Isso está escrito no Gênesis (2.19). Porque o Criador quer que o homem primeiro tenha um contato direto com a natureza, para conhecê-la profundamente e assim poder administrá-la, com amor, respeito e sabedoria.

         Inventar os nomes de cada animal foi um plano de Deus para que o ser humano estabeleça um vínculo afetivo com os bichos. E assim o homem aprenderia sobre o amor. A partir desse vínculo afetivo com os animais, o ser humano seria capaz de colocar-se no lugar dos animais, logicamente para tratá-los como gosta de ser tratado: com amor.

         Mas as pessoas se desviaram de Deus. E desprezam a oportunidade de aprender com os animais sobre o amor. O amor de Deus. Por isso tanta crueldade para com os animais. Por isso quem luta pelos direitos dos animais é alvo da indiferença e até mesmo da discriminação da sociedade.

         A teologia e a filosofia criaram uma farsa segundo a qual o ser humano é superior aos animais. Mas no reino de Deus só o que interessa é o amor. E é nos animais que encontramos a mais expressiva lição sobre o amor de Deus. Não adianta ir a igrejas, dar oferta, rezar ou falar a língua dos anjos se você tem em sua casa um animal amarrado ou fechado numa gaiola. Nesse caso você está sendo cruel com uma criatura de Deus. Nesse caso você não tem amor, não faz parte do reino de Deus, não tem parte com Deus.

         São Francisco de Assis ensina que Deus está em cada animal, e sofre quando o animal é maltratado. Então, quem mantém um cachorro amarrado está desprezando e agredindo o Criador. É que os animais existem para exaltar a Deus. E amarrado ou fechado, essa criatura divina está impedida de louvar a Deus com os dons da sua natureza.

Branquinha amada, tua partida foi tão triste para mim e para a Mágida. Ainda não conseguimos aceitá-la. Mas nosso consolo são as lições de amor que nos deixaste. E a certeza de que estás aí, no céu dos animais e dos humanos que aprenderam amar como os animais.

Por Dr. Nilton Kasctin Dos Santos (Promotor de Justiça e Professor)

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