A Lei Estadual 14.727, de 2015, estabelece a primeira semana de outubro como a Semana Estadual dos Direitos dos Animais no RS.
Precisamos aproveitar esse período para iniciarmos um grande movimento em busca de uma nova ética no relacionamento com os animais. Porque é realmente atroz o sofrimento deles nas mãos dos humanos.
Todos os animais têm direitos assegurados na Constituição Federal, nas leis e normas administrativas. Direito à vida, à liberdade, à saúde, ao seu habitat e, principalmente, a viver conforme a sua natureza. Mas todos esses direitos são sistematicamente violados pelos humanos. Às vezes sem querer. E sempre em nome da economia, da cultura, da tradição, do turismo ou do nosso lazer. A seguir, alguns exemplos.
Na suinocultura. As porcas grávidas e lactantes vivem fechadas em grades de ferro do tamanho exato dos seus corpos, sem poder caminhar, muito menos virar-se de lado ou coçar-se. Elas não têm vida; apenas existem imóveis à espera da morte. Para se transformarem em salame quando não puderem mais procriar. Uma violência inominável e completamente desnecessária contra a natureza dos porcos.
Na avicultura. Em imensos galpões, ficam trancafiadas nas sombras as galinhas poedeiras, em gaiolas de arame menores que um papel de ofício. Com o bico mutilado para não comer a própria carne devido ao estresse insuportável. Sem poder ciscar ou comer insetos e vegetais. Com as unhas extirpadas, sem bico, sem sol, sem poder caminhar nem abrir as asas, são apenas máquinas de produzir ovos em série para os humanos. São produzidos assim quase todos os ovos do supermercado.
No comércio. É preciso refletirmos também sobre o sofrimento dos pintinhos, pássaros e outros animais nos comércios agropecuários da cidade, empilhados em gaiolas como mercadoria barata. Durante a noite, feriados e fins de semana ficam fechados no escuro dentro das lojas, enquanto os humanos descansam e se divertem. E os pássaros não existem para gaiolas, nem nas lojas, nem na casa de algum humano. Manter um pássaro preso é um ato de extrema crueldade.
Na atividade leiteira. A sociedade toda deveria saber do desespero das vacas de leite quando seu bezerro é morto a pauladas ou separado para sempre da mãe assim que nasce, para que não mame o leite destinado ao comércio. Por causa da dor da ausência do filho, a vaca berra por mais de semana, dia e noite, e lambe convulsivamente as tábuas da estrebaria, num gesto de profundo desespero para ver se consegue transmitir um pouco de cuidado e o imenso amor que sente pelo filho. Ela sabe que o filhote, se não foi executado, está passando pelo pior sofrimento que um ser vivo pode sentir: a solidão, a saudade da mãe, a indescritível angústia pela ausência do afeto da mãe.
E todo esse sofrimento é completamente desnecessário. Com tanta tecnologia e conhecimento científico modernos, não se justifica tratar assim um ser vivo que sente dor, solidão, tristeza, medo, ansiedade, exatamente como nós.
A propósito, por provocação da professora Denise Machado, de Giruá, iniciou-se um movimento nesse sentido, como já divulgado nas redes e imprensa:
“Na noite de quinta-feira (25.09), no auditório do Ministério Público de Santo Ângelo, aconteceu importante evento relacionado à defesa dos direitos dos animais. Além dos Promotores de Justiça Nilton Kasctin dos Santos e Paula Regina Mohr, estiveram presentes inúmeras pessoas representantes de ONGs ligadas à proteção dos animais de vários municípios da região, incluindo Santo Ângelo, Ijuí, Santa Rosa, Catuípe, Entre-Ijuís, Cerro Largo e outros.
(...) Para Nilton Kasctin, “a crueldade contra os animais infelizmente faz parte da nossa cultura e da nossa economia. Rodeios crioulos, domas de cavalo, músicas famosas exaltando a 'valentia' do gaúcho que bate em cavalo, pássaros presos em gaiolas, caça de animais silvestres, galinhas poedeiras e porcas em lactação aprisionadas em grades do tamanho exato de seus corpos, rinhas de galo e cachorro, cães abandonados em estradas e muito mais. Em tudo transparece nosso absoluto desprezo pelos direitos dos animais...”.
Por Dr. Nilton Kasctin Dos Santos (Promotor de Justiça e Professor)