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Jesus e os excluídos. Por Nilton Kasctin dos Santos (Professor e Promotor de Justiça)
Por Rádio JB
Publicado em 24/12/2025 19:56
Opinião
Imagem IA / Rádio JB

Jesus nasce no período histórico em que os romanos dominam o mundo. Está em vigor o portentoso Império Romano. O lugar de seu nascimento é fortemente marcado pela religiosidade tradicional, e as pessoas procuram manter uma tradição de reverência absoluta aos dogmas do Velho Testamento. Nesse tempo, a maioria dos religiosos tradicionais de Judá, embora creiam em um só Deus e procurem fazer o bem, também vivem sob forte influência da cultura grega, reproduzida pelos romanos, que discrimina pobres, mulheres, crianças, deficientes e outros grupos sociais sem voz.

         Mas Jesus não se impressiona com o poder dos romanos, que dominam o mundo. Muito menos com a cultura grega que incutiram na vida das pessoas. Ainda muito jovem, começa a denunciar as injustiças sociais, a corrupção e a hipocrisia dos religiosos, opondo-se de forma veemente a quase tudo o que provém da cultura greco-romana excludente e injusta.

         A Jesus não importa a tradição, os costumes ou o que a sociedade pensa a seu respeito; só lhe interessa a verdade, a justiça e o amor. Para a sociedade da época, mulheres, crianças, mendigos, doentes incuráveis e pobres não passam de coisas, não são cidadãos, não têm direito a nada.  Para Jesus, essas pessoas são exatamente iguais aos imperadores, rabinos e generais.

         A sociedade vê a aparência exterior, como grau de escolaridade, posses e poder político. Jesus vê o coração das pessoas.   

         Certa feita, quando sua fama já se havia espalhado, algumas crianças tentam aproximar-se de Jesus. São retiradas dali a pretexto de evitar importunação ao Mestre. Por pessoas que haviam internalizado a cultura segundo a qual criança não goza de qualquer direito. Jesus aproveita o episódio para fazer um discurso que desmonta até mesmo o conteúdo dos sermões mais bem elaborados do Judaísmo:

         - Se vocês não se tornarem como essas crianças, não esperem ter parte no reino de Deus.

         Noutra ocasião, uma mulher chega para Jesus e pede-lhe que interceda pela filha doente. Insiste, grita com o Mestre, mas ele nada diz. Jesus quer ver a reação dos discípulos, para checar se já entenderam alguma coisa do reino de Deus.

         - Mestre, manda essa mulher embora daqui - pedem os discípulos, para decepção de Jesus.

         A fim de ensinar-lhes, Jesus não só para no meio do caminho, mas trava um diálogo complexo com a mulher, que dá um show de inteligência e determinação.

         - Mulher, grande é a sua fé. Seja como você deseja – replica o Mestre depois de escutá-la. E naquele instante a filha dela fica curada (Mt 15.21).

         Os discípulos enxergam a mulher cananeia com os olhos da cultura grega, que considera de segunda categoria tudo o que se relaciona ao feminino. Mas Jesus, olhando com os olhos de Deus, mostra-lhes uma mulher com uma fé maior do que a dos discípulos. Mostra-lhes uma mulher poderosa, pois quem tem fé tem poder. Mostra-lhes uma mulher com os dons de sonhar, de discernir e ver além do que os olhos alcançam.

         Para os discípulos, essa mulher tida como coisa, proibida de sair de casa e de falar sem a permissão do marido, essa mulher sem documento, sem nome, sem posses, tem que ser repreendida por Deus para que dele não se aproxime, pois (pensam) só os homens merecem estar com Deus.

         Mas através desse diálogo de igual para igual com o próprio Deus, Cristo mostra uma mulher que sabe entender o mundo e por isso está em condições de ajudar a transformá-lo.

         Sim, Jesus veio para servir. Não aos religiosos, nem aos que se acham justos. Mas aos necessitados. Aos excluídos.

         Feliz Natal!

 Por Nilton Kasctin dos Santos (Professor e Promotor de Justiça)

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